Verbos terminados em -er

O acto de comer é, também, um acto sexual.... Chocado, caro leitor? Passo a explicar e a usar analogias que, se tiver uma mente aberta, por certo verá que a minha afirmação não é ferida de mentira.
Decide o caro leitor cozinhar. Faz a lista de compras. Sai da casa. Entra no supermercado... Aqui começam as analogias. Nas prateleiras repousam os alimentos que constam de sua lista e, para o melhor escolha dos eleitos que irão pontificar mais tarde em sua mesa, o leitor olha, pega, apalpa, cheira e, se o vívere passar nos testes visuais e olfactivos....logo os voltamos a ver no banco de lado do leitor a caminho de sua casa. Fosse sábado à noite e saisse o leitor com GPS apontado a uma discoteca da moda e após isolar num canto a dama que lhe chamou a atenção (ou a única que lhe deu atenção) e o resultado seria o mesmo...o banco ao lado do seu estaria ocupado no regresso a casa.
Chega o leitor a casa vindo do supermercado. Prepara tudo para o ritual de cozinhar. Tira os sapatos, põe um bom cd a tocar e abre uma garrafa de vinho que irá, à vez, temperar cozinhado e cozinheiro. Há os ditos preliminares, o descascar, o temperar e o cortar, sempre embalado pela música e pela imaginação de como será quando a soma de todas aquelas partes forem bem mais do que um todo. Chega o momento da verdade, baixa-se (ou sobe-se) o volume da música
. Temos de verter todos aqueles elementos que formarão o repasto num recipiente previamente aquecido e muitas vezes já untado de gordura ( animal ou vegetal, cabe à consciência de cada um optar). Aqui já a fase dos preliminares se está a esbater e uma nova fase toma forma. O tamanho nesta fase não importante, cozinhar é um acto sexual mas não vexatório. Aqui o que verdadeiramente interessa é a perícia, a capacidade de juntar os ingredientes correctamente, no momento certo, acertar o tempero. Mais uma vez suga-se, cheira-se, lambe-se....sopra-se (fosse este texto escrito na língua de Shakespeare e o innuendo era tão mais perceptível). Neste momento já o leitor começa a sentir o que dali poderá surgir, uma grande tensão apodera-se do leitor, este tem de ter cuidado para não afastar...precocemente o preparado gastronómico da dádiva de Prometeu ( que é como quem diz, do fogo). O leitor controla-se e passa o cozinhado para uma travessa ou prato e aí....o leitor vê todo o corpo desnudo que em breve possuirá.
Está sentado o comensal....à sua frente a amante e seus odores, qual Salóme pedindo a Hérodes a cabeça de João Baptista. Uma nostalgia apodera-se do leitor. Em breve tudo estará terminado. Tentará prolongar o sentimento, mas ele sabe que vã será essa tentativa. Prepara a primeira garfada, adivinhando a sensação que resultará do encontro de criador e criação. Agarra a boca sequiosa de desejo a primeira garfada e logo se adivinha em todo corpo aquilo que os franceses tão bem apelidaram de la petite mort......