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Codex 666-Tomo I


Continuemos nossas acções em terra que meu colega descortinou como sendo Celorico de Basto. Assentemos pois aqui arraiais e observemos Dotília a caminho de escola primária para falar com mestre escola de seu nome Matias. "Sr. professor, precisava de lhe dar uma palavra sobre meu filho, Aldónio." Aldónio era, nesta altura., moço de seus viçosos 8 anos. "Oh diabo, será que castiguei demasiado o míudo e agora vem sua mãe tirar satisfações?"- pensa Mestre escola Matias de seu nome e pioneiro da cura (osteopática) da hiperactividade..... cachado bem assente no focinho. "O meu Aldónio tem gripe e não virá até final da semana." Respira fundo o professor e sorri, "Então a mulher lá se vinha queixar?!?! Está para chegar o dia."
Guarda Dotília as socas novas que calçou assim que pôs pés na escola e caminha descalça de volta às lides do campo ou a palheiro onde a esperava Ti Larilas, fosse para onde fosse,as socas não seriam de utilidade. Fica pois Aldónio em casa, só e sozinho. A seu lado a Bíblia, companhia imposta por sua mãe. Aldónio, cansado de tal livro, vasculha uma arca onde sua mãe escondeu o que de seu pai sobrou pela casa; roupas, alfaias e ... um livro. Pega Aldónio no livro, sopra-lhe o pó e vê o titulo "Os Lusíadas". Folheia o dito e repara que por alturas do Canto IX estão folhas coladas e amarrotadas. Estranha Aldónio até dia em que saberá de que trata tal canto e por ele se fizer acompanhar de cada vez que for à casa de banho. "Aldónio que cegas e vão-te crescer pêlos nas palmas da mão!" Decide Aldónio explorar tal livro, mas de uma forma que a nenhum estudioso tinha lembrado. Decide Aldónio lê-lo de trás para a frente. Começa a ler o petiz e .... as palavras fazem sentido e contam histórias sobre seu país que Mestre Matias nunca antes tinha referido. " Houve em tempos jovem valoroso de seu nome João, filho ilegitimo de el-rei D. Pedro. Tal mancebo, como outros de seu tempo e de sua condição, não eram ao trabalho apegados, preferindo passar seus dias em tabernas com meretrizes e salteadores convivendo. Chegado o mês de Agosto ia este grupo de mancebos a banhos (literalmente) ao Algarve. Era certo e sabido que por lá paravam umas inglesas que à brincadeira eram dadas. Estava certo dia o grupo em Praia que apelidavam da Rocha e chega Filipa de Lencastre, filha de João de Gant, 1º Duque de Lencastre rodeada de suas aias e pagens. Tal nobre dama viera até nós por conselho de uma amiga sua do clube de bordado que se reunia às 4as à noite para bordar e ....tricotar. "Filha, vais a Portugal, que lá os homens são que nem cavalos, em cheiro e atributos" D. Panasquinha de Balugães vendo a dama logo lhe escreve pungente soneto que declama. Começava primeira estância de seguinte forma "Thou art pale milady. Thou need some cream" "Fucking fag"- diz Lipa Maluca (nome ganho por reputação própria e não herdado). D. João, homem de real sangue e sangue real, expressa em palavras a cultura do país de que em breve será rei "Ó jóia anda cá ao ourives. Dava-te uma que pensavas que eram duas. Ai não que não era." Lipa, enamora-se deste jeito desbragado e (espera ela) sincero presente em seu linguajar. Trocam olhares, cada um para locais de sua predilecção tentando adivinhar formas e tamanhos. "Minha senhora pede que te encontres com ela aqui neste mesmo sítio quando a lua for alta e a maré estiver baixa."-sussurra-lhe a aia. As mãos de Lipa Maluca não bordaram esta noite......
Chega a noite, aparece a lua, retira-se o mar. Encontram-se os corpos ávidos de se conhecerem. Deitam-se continente e Old Albion e depressa se tornam uno sem ajuda de túnel, ou com uso do mesmo? Decida quem lê.
Embalona Lipa de Lencastre "João não me vieram as regras", põe as mãos à cabeça D. João. "Um filho? Desmancho não farei que já passa das 10 semanas. Tê-lo-emos e iremos novamente ao Algarve, pode ser que fique por lá, sendo meio inglês e isso"
Num volte face digno de novela de país a ser descoberto 120 anos depois, D. João torna-se rei de Portugal. Ele ia ao Paço pedir um tacho à viuva do meio irmão e de repente vê-se rei e inaugurador de dinastia. Ele há dias do catano.
É D. João rei, Lipa Maluca rainha, mas o povo olha com desconfiança este rei que dias antes bebia a seu lado na Taberna e que ainda lá estava a dever. "Este rei não é de jeito. Estamos no Verão de 1415 e o rei ainda anda vestido com tendências, cores e acessórios da Primavera de 1413. É uma vergonha para ele e para o país. Eu sou muito directo, e este é o meu trabalho." D. João sabe que tem de fazer algo que faça seu povo respeitá-lo. Sabe el-rei que seu povo é dado ao acto de comer. Tinha el-rei ouvido falar de um prato exótico africano. Reúne sua corte e diz "Vamos a Ceuta buscar a receita do couscous e iremos entregá-la ao povo que sufocamos com nossos impostos." Sorri seu filho mais velho, D. Duarte, que ouvindo África e o plural de algo de seu apreço (escreveu mais tarde um livro apelidado de "A Arte de Cavalgar a toda a sela") e saindo a sua mãe imaginou chavascal ao som de batuque. "Eu estou com meu pai, quem empunha espada comigo?" Todos concordam, alguns precisavam de uns tapetes e outros de cena para relaxar. Marrocos foi o destino. Chegaram, viram, venceram e trouxeram a receita de couscous que ao povo ofertaram. D. João era o rei que o povo gostava."
Aldónio, novo demais para perceber, fecha o livro. Tem uma semana toda para o ler. Que mais aprenderá sobre a história do país que afinal começou sua demanda de novos mundos motivado pela comida? Sua mãe chega, lesto pega na Bíblia "Tendo Jesus entrado na casa de Pedro, viu que a sogra deste jazia no leito com febre. Tocou-lhe com a mão e a febre deixou-a; e, levantando-se, pôs-se a servi-los"

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