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Little French woman....
Cumpre o presente post o propósito de responder a uma dúvida que por certo acompanha muito bom comensal... Tratará este post das origens da francesinha, prato característica do burgo onde quatro das seis mãos que aqui falam, se despediram da meninice e se tornaram homens, ou sucedâneos de boa qualidade. Tal história foi ouvida no antigo Café Luso, ponto de encontro (também) de estudantes e com forte ligação a Medicina, não só pela sua proximidade ao Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar,mas por ser frequentada por senhoras que podiam alegar que, para elas, gonorreia e clamídia eram doenças profissionais.... A omnipresença de penicilina na sua forma mais primitiva em tudo o que era parede, cadeira e panela ajudava a consolidar tal afinidade. A saber...
Há muito, muito tempo em terra de interior morava uma mãe e seu filho. Mãe de nome Dotília e filho onomásticamente referenciado como Aldónio. Eram bastantes chegados, tão chegados que Aldónio, homem de 35 anos feitos, dormia todas as noites com sua mãe. A serra é fria e desde que pai de um e marido de outra deu às de vila Diogo ambos se aqueciam em noites frias de invernia. Dormiam, mas não sem antes rezarem o terço;a mãe de Aldónio era mulher à religião apegada, diziam as más línguas que era de ser filha de padre. Gente virtuosa sempre despertou inveja e, claro está, as gentes da aldeia não perdiam opotunidade para falarem de Dotília e Aldónio. O local da tertúlia era a tasca de Ti Chico Larilas, (Larilas por herança de um avô que teria o hábito de vestir roupa de sua esposa e olhar-se demoradamente ao espelho em tal modo de trajar, Chico porque é mais curto que Francisco) local onde canjirão de vinho não puxava o tremoço, mas discussão acesa sobre Aldónio e Dotília. Famoso é aquele dia em que Aldónio, jovem dos seus 19 anos, entra na Tasca, senta-se e pede como quem ordena "Traga-me uma caneca de tinto e uma bocada de broa" "Tu não ouves home?" - Diz a mulher a Ti Chico Larilas que com o espanto de tal visita apartou tanto as queixadas que deixou cair seu palito (companhia fiel desde sua puberdade). Acerca-se Ti Larilas do jovem e serve-o. O decidido mancebo leva o recipiente à boca e bebe-o de golada. Todos olham Aldónio, num misto de admiração e remorso. Avançam dois, firmes na intenção de partilhar canjirão e palavras com Aldónio. A cara de Aldónio contorce-se de dor e após espasmo anunciador....borrifa quem para ele avançava com o que há pouco tinha entrado de golada. Riem-se os que se manteram afastados, acabrunham-se os que apanharam chuveiro e foge Aldónio a gritar para quem quisesse ouvir "Mãezinha que me matam!"
Certo dia morre Dotília, deita-se sozinho na cama Aldónio ( a última vez que tal tinha acontecido andava Aldónio na escola primária). Passam-se dois meses e Aldónio não aguenta. Precisa de fugir das recordações e dos sítios e objectos que Dotília lhe lembram. Decide partir para França, terra de oportunidades e do Santuário de Lourdes (não necessariamente por esta esta ordem de importância na escolha feita por Aldónio ) onde tinha arranjado trabalho como pedreiro numas obras onde outros de sua aldeia labutavam. Antes de ir, Aldónio falou com sua tia Maria das Dores "Tia, vou-lhe escrever umas cartas que peço que leia junto à campa de minha mãe, para ela saber de mim. Com as cartas mandar-lhe-ei dinheiro para que mande rezar uma missa por mês em memória de minha mãe." Parte Aldónio, rumo a Bordéus. Chegado lá, trabalha, volta a casa, reza o terço, dorme no chão (a cama lembrava-lhe 29 anos de sonhos a lado de sua mãe), trabalha, volta a casa, reza o terço, dorme no chão.... Certo dia, parou Aldónio na boulangerie para comprar 2 trigos que seriam o repasto nocturno e vê Amelie, francesa de estatura pequena, pernas arqueadas e pêlo no sovaco. Aldónio deteve seu olhar nela e por momento viu sua mãe ( onde era sovaco imaginou lábio superior). Amélie, mulher que também podia alegar certas como doenças profissionais, vendo ali hipótese de cliente aproxima-se e mete conversa. Arranham os dois o idioma um do outro e Aldónio para a impressionar compra-lhe um bolo. A medo, Aldónio convida-a para sua casa. Amélie aceita. Aldónio rejubila. Chagados a casa, Aldónio pergunta-lhe se quer comer. Ela não recusa, Aldónio põe farta mesa e olha-a comer. Encaminha-a Aldónio para o quarto. Estão frente a frente, há um silêncio incómodo. Amélie, mulher da vida e habituada à vida de mulher, ajoelha-se. A cara de Aldónio ilumina-se com um sorriso. A correr vai a uma gaveta, tira o seu terço e o de sua mãe e ajoelha-se ao lado de Amelie, oferecendo-lhe o terço que a Dotília pertenceu. Amelie, habituada a conviver com homens rudes e básicos, estranha esta perversão de Aldónio. Começa Aldónio a rezar e incentiva Amelie a imitá-lo. Amélie faltou à catequese no dia em que ensinaram a rezar o terço, por isso vai exprimindo sua surpresa por esta situação "Onde caralho me vim meter. Tou aqui, tou a perder outros clientes." Acaba o terço e Aldónio começa a despir-se, Amelie qual cão de Pavlov lesta o imita. Mete-se Aldónio na cama e Amelie mais uma vez o acompanha no gesto. Apaga a luz Aldónio e deseja boa noite a Amélie. Amélie, mulher ferida no seu orgulho de mulher e profissional, chega-se a Aldónio fazendo-o sentir a firmeza de (algumas ) de suas carnes. Aldónio nem dá sinal de si. Amarra Amélie o que Aldónio se recusa a dar uso. Grita Aldónio "Tu que fazes Amélia que não somos casados e não pedi tua mão a teu pai?" Amélie, não percebendo bem o que ali se passava, pega na sua roupa e parte. Aldónio fica acordado até de manhã, matutando.
Chega a manhã seguinte e Aldónio procura Amélie "Amélia temos de casar, tua honra está manchada. Eu abusei de ti e tua inocência." Amélie está estupefacta, pelo acto e pela menção de duas palavras que desconhece: "honra" e "inocência". Mas, sendo Amélie mulher, vê ali oportunidade de negócio e aceita. Aldónio não cabe em si. Vão ao Photomaton e tiram foto que acompanha Aldónio em sua carteira, Orgulhoso de sua mulher, Aldónio mostra a foto aos seus colegas franceses , que respondem de uma maneira que ficou imortalizada nas cartas que Aldónio escrevia para casa e que sua tia lia em voz alta na....Tasca de Ti Chico Larilas "Querida mãe, vou-me casar. Minha esposa creio vir de família de portugueses, meus colegas quando vêm a foto dizem todos Sá Lopes... melhor dizendo, dizem Sá Lope. São estrangeiros, certamente sentem difiuldades em dizer a última letra. Tenho rezado o terço todas as noites" "Ti Zé, mais uma rodada em memória de Dotília. Benzam-se antes de beber, assim algum do propósito inicial deste dinheiro é cumprido"
Estão os dois casados, Aldónio trabalha, Amélie também, com desconhecimento de seu esposo. Chegada a noite ajoelham-se e reza Aldónio, pragueja Amélie ("Mãezinha o terço em francês é lindo"). Deitam-se e dormem.
Certa noite chega Aldónio mais cedo a casa e ouve barulhos no quarto. Entra e depara-se com Amélie, o padeiro e o leiteiro envolvidos de tal maneira que não se sabe onde começam uns e onde acabam os outro. No calmo Aldónio estala algo e indo à cozinha, pega numa faca e trespassa todos.
Há o quarto, três corpos exangues e Aldónio ajoelhado a rezar.
Durante uns meses largos, Aldónio alimentou-se de carne, pão e queijo, contribuições dos intervenientes da desavergonhice que decorria no quarto do qual se as paredes pudessem falar nada teriam a dizer sobre o que Aldónio a Amélie fazia e vice-versa.....
Há muito, muito tempo em terra de interior morava uma mãe e seu filho. Mãe de nome Dotília e filho onomásticamente referenciado como Aldónio. Eram bastantes chegados, tão chegados que Aldónio, homem de 35 anos feitos, dormia todas as noites com sua mãe. A serra é fria e desde que pai de um e marido de outra deu às de vila Diogo ambos se aqueciam em noites frias de invernia. Dormiam, mas não sem antes rezarem o terço;a mãe de Aldónio era mulher à religião apegada, diziam as más línguas que era de ser filha de padre. Gente virtuosa sempre despertou inveja e, claro está, as gentes da aldeia não perdiam opotunidade para falarem de Dotília e Aldónio. O local da tertúlia era a tasca de Ti Chico Larilas, (Larilas por herança de um avô que teria o hábito de vestir roupa de sua esposa e olhar-se demoradamente ao espelho em tal modo de trajar, Chico porque é mais curto que Francisco) local onde canjirão de vinho não puxava o tremoço, mas discussão acesa sobre Aldónio e Dotília. Famoso é aquele dia em que Aldónio, jovem dos seus 19 anos, entra na Tasca, senta-se e pede como quem ordena "Traga-me uma caneca de tinto e uma bocada de broa" "Tu não ouves home?" - Diz a mulher a Ti Chico Larilas que com o espanto de tal visita apartou tanto as queixadas que deixou cair seu palito (companhia fiel desde sua puberdade). Acerca-se Ti Larilas do jovem e serve-o. O decidido mancebo leva o recipiente à boca e bebe-o de golada. Todos olham Aldónio, num misto de admiração e remorso. Avançam dois, firmes na intenção de partilhar canjirão e palavras com Aldónio. A cara de Aldónio contorce-se de dor e após espasmo anunciador....borrifa quem para ele avançava com o que há pouco tinha entrado de golada. Riem-se os que se manteram afastados, acabrunham-se os que apanharam chuveiro e foge Aldónio a gritar para quem quisesse ouvir "Mãezinha que me matam!"
Certo dia morre Dotília, deita-se sozinho na cama Aldónio ( a última vez que tal tinha acontecido andava Aldónio na escola primária). Passam-se dois meses e Aldónio não aguenta. Precisa de fugir das recordações e dos sítios e objectos que Dotília lhe lembram. Decide partir para França, terra de oportunidades e do Santuário de Lourdes (não necessariamente por esta esta ordem de importância na escolha feita por Aldónio ) onde tinha arranjado trabalho como pedreiro numas obras onde outros de sua aldeia labutavam. Antes de ir, Aldónio falou com sua tia Maria das Dores "Tia, vou-lhe escrever umas cartas que peço que leia junto à campa de minha mãe, para ela saber de mim. Com as cartas mandar-lhe-ei dinheiro para que mande rezar uma missa por mês em memória de minha mãe." Parte Aldónio, rumo a Bordéus. Chegado lá, trabalha, volta a casa, reza o terço, dorme no chão (a cama lembrava-lhe 29 anos de sonhos a lado de sua mãe), trabalha, volta a casa, reza o terço, dorme no chão.... Certo dia, parou Aldónio na boulangerie para comprar 2 trigos que seriam o repasto nocturno e vê Amelie, francesa de estatura pequena, pernas arqueadas e pêlo no sovaco. Aldónio deteve seu olhar nela e por momento viu sua mãe ( onde era sovaco imaginou lábio superior). Amélie, mulher que também podia alegar certas como doenças profissionais, vendo ali hipótese de cliente aproxima-se e mete conversa. Arranham os dois o idioma um do outro e Aldónio para a impressionar compra-lhe um bolo. A medo, Aldónio convida-a para sua casa. Amélie aceita. Aldónio rejubila. Chagados a casa, Aldónio pergunta-lhe se quer comer. Ela não recusa, Aldónio põe farta mesa e olha-a comer. Encaminha-a Aldónio para o quarto. Estão frente a frente, há um silêncio incómodo. Amélie, mulher da vida e habituada à vida de mulher, ajoelha-se. A cara de Aldónio ilumina-se com um sorriso. A correr vai a uma gaveta, tira o seu terço e o de sua mãe e ajoelha-se ao lado de Amelie, oferecendo-lhe o terço que a Dotília pertenceu. Amelie, habituada a conviver com homens rudes e básicos, estranha esta perversão de Aldónio. Começa Aldónio a rezar e incentiva Amelie a imitá-lo. Amélie faltou à catequese no dia em que ensinaram a rezar o terço, por isso vai exprimindo sua surpresa por esta situação "Onde caralho me vim meter. Tou aqui, tou a perder outros clientes." Acaba o terço e Aldónio começa a despir-se, Amelie qual cão de Pavlov lesta o imita. Mete-se Aldónio na cama e Amelie mais uma vez o acompanha no gesto. Apaga a luz Aldónio e deseja boa noite a Amélie. Amélie, mulher ferida no seu orgulho de mulher e profissional, chega-se a Aldónio fazendo-o sentir a firmeza de (algumas ) de suas carnes. Aldónio nem dá sinal de si. Amarra Amélie o que Aldónio se recusa a dar uso. Grita Aldónio "Tu que fazes Amélia que não somos casados e não pedi tua mão a teu pai?" Amélie, não percebendo bem o que ali se passava, pega na sua roupa e parte. Aldónio fica acordado até de manhã, matutando.
Chega a manhã seguinte e Aldónio procura Amélie "Amélia temos de casar, tua honra está manchada. Eu abusei de ti e tua inocência." Amélie está estupefacta, pelo acto e pela menção de duas palavras que desconhece: "honra" e "inocência". Mas, sendo Amélie mulher, vê ali oportunidade de negócio e aceita. Aldónio não cabe em si. Vão ao Photomaton e tiram foto que acompanha Aldónio em sua carteira, Orgulhoso de sua mulher, Aldónio mostra a foto aos seus colegas franceses , que respondem de uma maneira que ficou imortalizada nas cartas que Aldónio escrevia para casa e que sua tia lia em voz alta na....Tasca de Ti Chico Larilas "Querida mãe, vou-me casar. Minha esposa creio vir de família de portugueses, meus colegas quando vêm a foto dizem todos Sá Lopes... melhor dizendo, dizem Sá Lope. São estrangeiros, certamente sentem difiuldades em dizer a última letra. Tenho rezado o terço todas as noites" "Ti Zé, mais uma rodada em memória de Dotília. Benzam-se antes de beber, assim algum do propósito inicial deste dinheiro é cumprido"
Estão os dois casados, Aldónio trabalha, Amélie também, com desconhecimento de seu esposo. Chegada a noite ajoelham-se e reza Aldónio, pragueja Amélie ("Mãezinha o terço em francês é lindo"). Deitam-se e dormem.
Certa noite chega Aldónio mais cedo a casa e ouve barulhos no quarto. Entra e depara-se com Amélie, o padeiro e o leiteiro envolvidos de tal maneira que não se sabe onde começam uns e onde acabam os outro. No calmo Aldónio estala algo e indo à cozinha, pega numa faca e trespassa todos.
Há o quarto, três corpos exangues e Aldónio ajoelhado a rezar.
Durante uns meses largos, Aldónio alimentou-se de carne, pão e queijo, contribuições dos intervenientes da desavergonhice que decorria no quarto do qual se as paredes pudessem falar nada teriam a dizer sobre o que Aldónio a Amélie fazia e vice-versa.....