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Posted by fractalview
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Na senda dessa belíssima short storty com final abrupto postada pelo nosso quase-omnipresente Q. (cuja vida social, como se vê, é bastante agitada), o épico "Little French Woman", cabe-me o papel de repudiar a etiqueta de "eruditos" que nos tem sido vilmente colocada. Ainda por mais, tal como a Dalila deu cabo do pobre Sansão cortando-lhe o argumento capilar, a minha própria "partnaire" é responsável pelo desdém do epíteto colocado. As semelhanças com Dalila, convenhamos, não se ficam por aí: não só a sua beleza é conhecida nos quatro cantos do Mundo (a ver se ela me faz aquele "strogonoff" de trás da orelha) , como o seu projecto de vida consiste em ver se me arrasta para o Gusto Barbeiro para reformular o meu precioso penteado à Nel Monteiro.
De qualquer modo, sinto a invisível mão do ávido leitor sobre o meu cachaço urgindo-me a ir directo ao assunto. Assim, a terra que viu nascer, crescer e morrer o amor de Aldónio e Amélie (mais o da segunda, esvaída em ingrediente próprio de arroz de sarrabulho) será o tema deste meu humilde post.
Partindo do princípio de que Monsieur Sarkozy está ocupado saboreando a sua mais recente invenção, "La lasagne franco-italienne", e de que não me vai fazer parar demamdando a salvação de Ingrid Bettancourt, de que Zidane já gastou a sua habilidade no jogo de cabeça com Marco Materazzi e de Napoleão está demasiado morto para me guardar o destino que deu a grande parte do mundo, casquemos alegremente nos habitantes dessa outrora gloriosa Gália.
Deve haver haver algo de errado com um povo que faz da sua reforma uma retrete. É verdade que, na nossa modesta pátria lusa, se vêem hordas de cidadãos séniores gastando os dias nos parques públicos, mas caramba, sempre há o dominó, a "sueca" e o amigo fiel, o canjeirão de vinho tinto para animar. Agora, mesmo na terra do genro de Mário Machado, Monsieur Le Pen, tratar a reforma e aqueles a quem ela se destina pela designação excremental que o título deste texto realça...bem, parece-me demais.
O sentimento geral dos membros do PDQC, consultados sobre esta questão à volta de umas "costeletas à salsicheiro", é que Napoleão metia a célebre mão no casaco, não para ver se não tinha pedido o bilhete de identidade, mas para afagar os mamilos, uma forma de "self-indulgence" comum em habitantes da pátria dos "hors d'ouevres". Aliás, aqui que se atinge o cerne da questão: como é que um povo que se orgulha de comer atentados gastronómicos como o "foie gras" (vide http://littlebirdtoldme.wordpress.com/2008/04/13/foie-gras-nunca/) consegue penetrar de forma tão preemente na nossa "art de la table"?!
O facto, é que, da "nouvelle cuisine", que consiste normalmente num orgulhoso poio de esparregado encostado a uma tosta minúscula com uma gamba e uma folha de salsa em "posição missionário", ao "champagne" que, apesar da persistente alternativa lusa "Fita Azul", insiste em marcar as efemérides maritais e futebolísticas da nossa nação, o raio dos "avecs" conseguiram atingir-nos. É inegável.
Enquanto o humilde escriba sonha com um "Crème brûlée" (que apenas acrescenta um articulação de lábio-dentais, palatais e oclusivas - bendito Raúl de Almeida, que a Linguística esteja contigo - ao comum leite creme), algures num recôndito canto de Celorico de Basto um "garçon" de bigode farfalhudo e bochecha rosada apaga da ementa o onomásticamente simplista "Panados com queijo e fiambre" para o substituir por um elaborado "cordon BLUE". A intenção é boa, mas o facto é que o a cultura não abundava no referido local. E este, caro leitor, era nem mais nem menos do que...a Tasca de Ti Chico Larilas. Nem mais. O velho ancião, agora perdido numa alegre borracheira alzheimmeriana, em que canta a plenos pulmões uma estória ouvida no seu estabelecimento: "Eu ouvi uma passarinha, às quatro da madrugada, chama-se Amélieeee, e era meia afrancesadaaaa", decerto não o permitiria, mas a sua vontade já não prevalece. Mas quem decide os destinos da tasca?!
Permitamo-nos, pois, divagar para um pequeníssima "narrativa encaixada":O afanado Dotílio Larilas havia sido enviado de mui tenra idade (era ainda um querubim) para La Corse Touristique, de forma a lavar a alma e a fama de Ti Chico e Dona Dotília, viúva respeitável que por vezes se cansava de partilhar a cama apenas com seu filho Aldónio. Viajou com Ti Dores Sá Lopes, irmã de Ti Chico, que, imbuída do intrépido espírito emprendedor da sua família, fundou uma "maison de récréation" destinada a trabalhadores dos "battiments", que saudosos de suas esposas, empregavam o seu "COCK AU VIN", digo, com o vosso perdão, o seu "coq au vin" junto de colegas de Amélie Sá Lopes.
Rodeado da mais distinta sociedade gaulesa e absorvendo com avidez a competência hoteleira de Ti Dores, Dotílio Larilas viria a apaixonar-se por "Mariette Al-Saimedaqui", uma jovem trabalhora da vida (não o somos todos?), descendente de um vendedor de tapetes argelino que caíra em desgraça vendendo um futebolista apelidado de Bynia a um clube que vestia de rosa fuschia e tinha um treinador que ostentava uma vassoura no lábio superior. Mas como "a small fish in a small pond stays small its whole life" e Dotílio II sabia que o dito peixe "when moved into a big pond may quadruple its size", alimentara um sonho toda a sua vida: desposar Mariette e trazer a gastronomia francesa, indiscutivelmente mais sofisticada do que as "pappes au sarrabulle" de que tanto falava Ti Dores, para a remota aldeia de Celorico de Basto que o vira nascer, sem honra nem glória, qual leitão destinado à Bairrada. Fugida Ti Dores com o dono de uma patisserie, Dotílio II viu a ocasião e não desperdiçou. O resto, como dizem, é história.
Chantageando o idoso Ti Chico com ameças de divulgação da paternidade com base em testes de PDA, Dotílio tomara conta da Tasca e ameaçava fazer dela a Alliance Française de Celorico. Primeiro fora o "cordon bleu", depois o "fillet mignon" e mais recentemente, ousara afrontar a população com um "fondue bourguignonne ", acompanhado de "quiche lorraine" e decorado com "esgargots". Era demais. Padre Fontes, personagem de outras estórias, estas de ficção, viera de Vilar de Perdizes a pedido de Vi Riato, jovem presidente da junta e guarda-redes do clube da terra, para acabar com a maleita gaulesa que assaltara as gentes do recôndito lugarejo.
Aqui chega a hora de seguir a tradição do PDQC: "cortar a direito" quando a coisa se torna desproporcional. Padre Fontes sabia do que precisava: conhecia um misterioso druída, cujo número de telemóvel lhe tinha sido dado pelo amigo Alexandrino, hipnotizador de profissão, que vivia algures na mesma Gália que afrontava a lusitana localidade:
Dizia-se dele que era membro de uma comunidade de irredutíveis gauleses, cuja resistência aos Romanos, principalmente aos do Vaticano (comandados por um tal de Ratzinger, com o número de Jardel bordado no seu estandarte de guerra), era lendária. Rezava a lenda que misturando vários ingredientes adquiridos na distante floresta de Leclerc, preparara uma poção que tornara Gérard Depardieu o mais forte dos actores franceses. A poção não era, porém, isenta de perigos, dado que ao próprio Gerinho, como era tratado por Sarkozy, lhe tinha crescido o nariz e a pança e ficara com um permanente sotaque franco-saxão que irritava qualquer um que o visse vestido de Mosqueteiro.
Concluímos: Vi Riato, habituado ao mata-bicho e ao champarrião, concluiu que mais uma mistela não lhe faria mal ao fígado e citou o eterno detective Pepe Carvalho, criado por nosso mui querido Manuel Vásquez Montalbán, dizendo: "Que se foda. O fígado é meu e há-de fazer o que eu quiser."
O final da estória, caro leitor, deixamos às divagações da sua mente alimentada com "la mousse" verdadeiramente caseira e feita com um lusitaníssimo Pantagruel...digamos apenas, que, através da bruma recheada de "petit gateaus"e "crème camembert", num lugarejo distante do interior português, um moço de recados com um esboço de buço e com marcas de sovaco na (relativamente) alva camisa, apaga o "cordon blue" da ementa e escreve, na sua melhor caligrafia, "fígado de cebolada".
P.S. Quaisquer acusações de violação de direitos de autor relativamente a personagens, lugares e receitas culinárias, darão azo à revolta da facção xiita do PDQC, por cujos actos este escriba não se responsabiliza.
2 Comments
19 de abril de 2008 às 16:38

Isto tá verdadeiramente visto que o mundo uma aldeia global, o destino subscreve o Meo, e vê o canal que de todos nós conta a história.
Cusinne française....jamais.... (Mas jamais mesmo, não é como outro que disse jamais e depois já era j'amais)
Bem, lá no fundo, “os que vos acusam de erudição” poderão estar com um problema grave de orientação alimentar… Como reagirão as papilas gustativas a uma verde folha de alface? Qual a melhor forma de saborear um prato de sopa? Grelhar ou cozer? Questões que não serão certamente respondidas neste blog…
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