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Há navios que partem e outros que se partem...
Posted by Q.
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19:16
Parte o barco. Nisto de barcos há os que que partem e os que se partem, a isto voltaremos. Parte em direcção ao Brasil. Nele seguem gentes, toda igual em partes e orgãos, mas diferentes em títulos e condições. Duas pernas, dois braços, um nariz....encaminhe-se para o porão que lá segue a ralé. Vestidos de seda, cetim e fatos comprados nos armazéns do Chiado a taparem duas pernas e dois braços .... encaminhe-se para o salão principal que lá seguem as pessoas.
Presumindo que o leitor tem duas pernas, dois braços e um nariz ... encaminhe-se comigo para o porão que isto de ralé, cada um é-o à sua maneira. Postemo-nos entre o sal da terra que segue para terras de Vera Cruz. Nos parcos pertences que os acompanham, segue o terço, a bíblia e a memória de tudo o que esperam conseguir. Entre aqueles que seguem no porão, a um canto, costa com costa, sentados no chão.... Zé Miguel e Asdrúbal apoiam-se, costas com costas, culpa com culpa. Asdrúbal deixou sua mulher e filho petiz, Zé Miguel deixou o padre da freguesia. Seguem para o Brasil, na esperança de criar uma vida a dois, na esperança de esquecer os três que ficaram para trás (não há aqui trocadilho, caro leitor, concentre-se)
O resto da ralé estranha aquele casal estranho, amarram-se ao terço, leêm a biblia.
Cai a noite... O navio partiu mas não se partiu (haveremos de chegar lá) no convés tilintam copos de cognac, agitam-se leques. Tropegas vão ficando as pernas, vermelhos os narizes no porão, não por culpa do cognac ou do insistente abanar do leque, mas porque há fome. Amarram-se as pessoas a seus sonhos, tentam negociar com seu estomago "Eu sei. Espera que cheguemos ao Brasil, lá tudo será diferente." Adormecem os corpos, queixam-se os estomagos. Dentro de um dos carros do porão embaciam-se os vidros...uma mão marca o vidro. Celine Dion...alguem conhece?
Presumindo que o leitor tem duas pernas, dois braços e um nariz ... encaminhe-se comigo para o porão que isto de ralé, cada um é-o à sua maneira. Postemo-nos entre o sal da terra que segue para terras de Vera Cruz. Nos parcos pertences que os acompanham, segue o terço, a bíblia e a memória de tudo o que esperam conseguir. Entre aqueles que seguem no porão, a um canto, costa com costa, sentados no chão.... Zé Miguel e Asdrúbal apoiam-se, costas com costas, culpa com culpa. Asdrúbal deixou sua mulher e filho petiz, Zé Miguel deixou o padre da freguesia. Seguem para o Brasil, na esperança de criar uma vida a dois, na esperança de esquecer os três que ficaram para trás (não há aqui trocadilho, caro leitor, concentre-se)
O resto da ralé estranha aquele casal estranho, amarram-se ao terço, leêm a biblia.
Cai a noite... O navio partiu mas não se partiu (haveremos de chegar lá) no convés tilintam copos de cognac, agitam-se leques. Tropegas vão ficando as pernas, vermelhos os narizes no porão, não por culpa do cognac ou do insistente abanar do leque, mas porque há fome. Amarram-se as pessoas a seus sonhos, tentam negociar com seu estomago "Eu sei. Espera que cheguemos ao Brasil, lá tudo será diferente." Adormecem os corpos, queixam-se os estomagos. Dentro de um dos carros do porão embaciam-se os vidros...uma mão marca o vidro. Celine Dion...alguem conhece?