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Era uma vez um café (ou) João Nabeiro, nunca nos deixes!

Posted by fractalview on 18:32 in , , , , ,
Ponto prévio
Café: uma palavra tão simples, mas que pode dar azo a tantas interpretações:

Primeiro, a questão do número: quando dizemos um café, queremos dizer uma chávena de café, uma xícara de café, uma caneca de café ou um bidão de café, mas nunca "café". Que eu saiba, os grãozinhos são muitos e difíceis de contar, e não há uma "coisa" chamada café.
  • Em segundo lugar, a que nos referimos? A um café que se bebe, a um espaço onde se pode beber café, ou a uma tasca onde todos bebem cerveja, vinho a martelo servido a copo e tudo o que não seja café (ex. Café Snack Bar Bilharista)?

  • Finalmente, a questão da cor: cor de café, ou cor de café com leite? Sem ser daquelas pessoas que não se sentam na sanita onte esteve um maliano (o denominado "racista") - mas consciente de que distingo gente pela cor do cabelo, pela pilosidade facial, pela quantidade de botox ou outras características que não a pele (isso nunca, cruzes), trago à baila o "preto café". O café é preto? Preto, preto? Ou é de um castanho escurinho? Por outro lado, um angolano pode ser "castanho-café-com-leite", enquanto um senegalês será sempre "castanho-café-torrado-lote-Colômbia" ...Por isso, caros racistas e neo-nazis, incluíndo o eruditíssimo Mário Machado, deixem o tradicional "olha o c*** do preto café!" e priviligiem epítetos mais exactos, que isto de ser um racista ignorante e analfabeto dá mau nome à vossa causa.

Coisa seguinte ao ponto prévio

Era uma vez um membro da facção xiita do PDQC. Diga-se que era o único, mas isto de ser extremista dava-lhe um ar de superioridade que não era para todos. Certo dia, o nosso camarada pôs-se a caminho de Londres, na esperança de resolver o imbróglio que que lhe ocupava a mente havia meses: quando os ingleses diziam que a sua comida nacional era "fish and chips", qual era o "fish" em questão? Uma pescada chilena? Um peixe-espada preto (cá está a questão do racismo)? Uma dourada de viveiro? A resposta viria em breve.

Assim, numa manhã de nevoeiro, após um pequeno-almoço digno do Partido que representava, o nosso protagonista rumou às ruas de Sua Majestade para procurar o complemento matinal sem o qual não funcionava: o café. Óbvio que não esperava poder pedir um "café curtinho em chávena escaldada", mas pelo menos contava beber um sucedâneo industrial dessa bebida d'home. Entra na primeira coffee shop. Não, não é dessas. Esta não vendia plantinhas que fazem rir. Vendia sim, café, e era a isto a que ele vinha. Receoso, leu o menú com atenção. Estranhou a quantidade de
variedades de café e de preparados com o mesmo, mas lá se decidiu a pedir um "espresso", confiante de que lhe saíria uma chaveninha bem-composta do líquido milagroso. Nada disso. O que lhe saiu foi um barril de líquido acastanhado, parecido com o que saía da banheira de Dotília quando ela se lavava após uma tarde no campo. Instala-se o drama, o horror e a devastação...Ainda lhe faltavam quatro dias de representação diplomática do PDQC nesta terra de bárbaros que comiam ovos estrelados com chouriço como primeira refeição. Não que isso lhe fizesse confusão, pois uma sande de presunto às nove da matina até é uma coisa viril, mas o facto de a coisa vir acompanhada com feijões e uma grade de cerveja metida numa caneca fazia-lhe espécie.
(...)
Passaram-se três horas desde que deixamos o nosso herói numa estação de metro, agarrado ao símbolo do "Underground" com uma fraqueza que metia impressão. Tinha sido uma agonia terrível, esta a que tinha sido submetido. Passada a irritação, as tonturas, e a moleza, começava a sentir a proximidade do delirium tremens, o último estádio de um viciado que vê a dose fugir-lhe por entre as grades do cano de esgoto. Mas os milagres acontecem. E foi assim, que num derradeiro esforço, se arrastou para as escadas rolantes e se deixou levar, na que poderia ser a sua última viagem. A luz tornava-se mais brilhante à medida que as escadas subiam, no seu passo metálico e cadenciado. O ar ficava mais límpido e respirável. E enfim, o milagre acontece. Em plena Babilónia, desterrado e em desespero, deparava-se diante de si uma catedral grandiosa. Não se tinha enganado na paragem. Não era Westminster. Não era a House of Parliament. Não era o Big Ben. Era o
CAFÉ COSTA (ou Costa Coffe, para não meter impressão aos bifes). Simples, com mesas redondas e cadeiras de madeira, só lhe faltava ter toalhas aos quadrados para fazer o pobre PDQCiano sentir-se em casa. Aproximou-se do balcão, e ao empregado com barba de três dias e aspecto pouco asseado, pediu, numa voz que parecia já de outro Mundo: "Queria um cafezinho, amigo...". Não lhe ocorreu que estava naquele local onde as pessoas não conseguem dizer "o rato roeu a rolha da garrafa de rum do rei da Rússia". O milagre persistia. Num café supostamente italiano. o homem responde-lhe: "Ó chefe, acho que precisa de daqueles curtinhos, daquelas bombas de acordar um morto. Aqui está."

Um sorvo. A sofreguidão de um café de verdade pela goela abaixo. E tudo está bem quando acaba bem.


2 Comments


Hail to thi Portuguese....Salvadores do sabor , do sabor da verdade e do amor.... Cimbalino ou bica...Salva vidas? Talvez....


A nossa lança em Old Albion... seta vá, que para lança ainda lhe faltam uns centímetros. Foi lá, provou da dita gastronomia local (paquistanesa,claro está) e foi ao museu da Madame Tusa. Reconheçamos o sacrificio que foi ir à terra da pint e do punk.

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